Acreditar é muito mais do que aceitar ideias ou repetir ensinamentos. É um movimento interior, uma disposição constante para caminhar com o que não se vê, mas se sente. Não surge apenas em momentos felizes, nem se esgota em práticas exteriores. Cresce, sobretudo, no silêncio dos dias difíceis, quando a alma procura sentido e o coração hesita entre ficar ou avançar.
Na minha vida, acreditar nunca foi ausência de dor nem garantia de respostas rápidas. Sempre o vi como uma forma de confiança que se constrói aos poucos, através das escolhas conscientes que fazemos mesmo quando a lógica nos falha. É uma entrega serena, que não nega a realidade, mas escolhe enfrentá-la com esperança.
Falar de acreditar sem falar de Deus seria negar a origem de tudo o que sustenta essa força interior. Não falo de um Deus distante, inacessível ou apenas presente nos rituais. Refiro-me a um Deus vivo, presente em cada detalhe, atento aos nossos passos, mesmo quando achamos que Ele está em silêncio. A proximidade divina não se mede pela ausência de sofrimento, mas pela paz que sentimos mesmo em plena tempestade.
Deus não impõe. Espera. Convida-nos a voltar, todas as vezes que nos afastamos. Dá-nos liberdade para escolher, mas permanece sempre próximo. E é nessa liberdade que a confiança ganha sentido. Não sou guiada por obrigações, mas por uma relação construída no quotidiano, feita de escuta, entrega e transformação.
A verdadeira confiança em Deus não exige provas. Não precisa de sinais visíveis. Basta um coração disponível e uma mente que aceite não controlar tudo. Quando deixamos de exigir garantias e começamos a aceitar o mistério, descobrimos uma nova forma de viver: mais leve, mais verdadeira, mais inteira.
Acredito porque conheço o efeito da presença divina no mais íntimo da minha história. Não como solução imediata para os problemas, mas como direção clara no meio da incerteza. Acredito porque, mesmo quando falhei, fui amparada. Mesmo quando não entendi, fui guiada. Mesmo quando me perdi, fui reencontrada.
E por isso continuo a confiar. Porque sei, profundamente, que Deus não falha. E porque, no fim, é n’Ele que tudo se reconcilia.
Paula C. Batista

Normalmente desejamos muito que aconteça milagres em nossas vidas.
Seja para nos livrar de problemas de saúde, familiares, económicos, sociais e até mesmo pessoais. Queremos vê-los resolvidos, a verdade é que a maior parte das vezes não fazemos o silêncio devido para que tal possa acontecer. Não encontramos respostas, apenas frustração. Tudo a nossa volta nos incomoda, o falar estrondoso das pessoas que nos rodeiam, a alegria dos demais...
Passamos a lamentar o que não alcançamos com frequência, sem notar que bastava olhar para dentro de nós mesmos. Somos frágeis, muito frágeis.
Queremos a todo o custo nos afirmar mas sem esforço da nossa parte. Muitas vezes, exigimos dos outros o que não somos capazes de fazer.
E queremos mais e mais, mas parece que nem Deus nos ouve. Que enorme ignorância a nossa, na descoberta da vida e dos propósitos que nos são destinados.
Nada há de grandioso em nossa vida sem primeiramente termos feito tudo, mas tudo o que está ao nosso alcance.
Vou partilhar convosco, algo que me aconteceu faz precisamente um ano agora por esta altura das festas de natal.
Havia recorrido a exames de rotina, pois tinha acabado recentemente de fazer os meus 50 anos (meio século) como diziam os meus filhos.
Recebi a notícia depois de alguns exames que teria de fazer uma intervenção cirúrgica, pois tinha um CIA já com uma dimensão significativa.
Eu achava que estava (quase) pronta na fé. Não estava! Aliás estava bem longe do (quase).
Percebi isso rapidamente, quando as lágrimas teimavam em cair pelo rosto, enquanto a minha mente me levava a vaguear pelas muitas questões que queria fazer.
O porquê? O para quê? O porquê EU?
Instantaneamente me lembrei que alguns anos trás, aquando do meu divórcio, ficando sozinha com os meus cinco filhos, pedi encarecidamente a Deus, que me desse força e saúde para criar os meus filhos. Depois disso podia me levar. Na altura era o que me bastava. Só que agora neste momento em que me via diante desta possibilidade, tornou-se absurdo, pois amava viver. E percebi que o maior fos milagres é viver. Acordar e deslumbrar um novo amanhecer não tem preço, a vida não tem preço, ela sim é um milagre, todos os dias.
Optei por não falar dessa situação a ninguém, só o meu marido sabia, pedi-lhe para guardar só para ele.
Ninguém soube, nem os meus melhores amigos? nem a família, nem os meus queridos e amados filhos.
Neste ano o meu primeiro filho iria casar, a minha filha lutava para entrar na universidade e o mais novo lutava pelo seu lugar no quadro de honra da escola.
Não me podia permitir, nem que fosse a preocupa-los um pouco. Não podia lhes tirar um pouco de alegria, acrescentando preocupações.
No trabalho continuei como se nada estivesse acontecer, não faltei um dia que fosse, não deixei nada por fazer por menos importante que fosse.
No silêncio do meu quarto, pedia a Deus que não levasse em conta o que lhe havia pedido há muitos anos atrás. Pois agora o que lhe pedia era que me desse mais alguns
( muitos anos de vida) e que se me pudesse concedê-los queria que fossem dedicados ajudar as pessoas. Pessoas que pudessem estar em dificuldades, desanimadas, sem alegria, sem fé.
Esta foi uma das minhas descobertas no silêncio do meu quarto, na verdade que me atormentava. Tinha um projeto de saúde. Grave!
Quando me confrontei com a realidade de que podia adormecer no silêncio do meu quarto, mas não voltar a despertar (uma realidade que é de todos) mas que não paramos para pensar senão quando nos vemos cara a cara com ela.
Passei a valorizar de outra forma os que estão doentes, os idosos, os necessitados, os tristes, aqueles que deixaram de acreditar novamente na possibilidade de uma vida melhor, renovada.
Incrível foi descobrir que não me incomodava deixar para trás as minhas roupas, os sapatos, as malas que tanto amo, as bijuterias que aprecio.
Ou até mesmo a casa e o carro que voltei a conquistar, depois de ter acontecido tanta perda ao longo da minha vida.
Descobri que eram as pessoas que eu AMO que eu não conseguia por um instante pensar ficar longe delas, a possibilidade de nunca mais as ver.
O homem que eu amo, e que me ama, os meus filhos, e que já não me bastava ficar só até precisarem de mim, mas queria continuar a vê-los mesmo sem precisarem de mim.
O meu trabalho, como podia parar agora?
Eu que Amo aquilo que fácil com toda a minha alma, com toda a minha entrega. Não podia, queria continuar a trabalhar a fazer o que gosto. Ainda não tinha alcançado tudo o que sinto que posso fazer na pastelaria.
Como podia acabar tudo?
Como podia acabar sem me reconciliar com Deus, sem comungar nem que fosse só mais uma vez?
Pois, desde que divorciada que nunca mais havia comungado.
Não é permitido, e isso faz-me muita confusão, porque alguma coisa está mal.
Era realmente todas estas coisas o que havia de mais valor para mim.
Só que todas as nossas dúvidas são infundadas quando confiamos.
E vivi uma experiência magnífica neste natal.
No dia de natal na missa de natal de 2024.
Aquando do beijo ao menino Jesus, não quis saber se me iam julgar, pois frequento assiduamente a missa mas sem me aproximar da eucarística, naquele instante percebi que precisava ir na fila e beijar seus pés. Os pés do menino Jesus. Acreditei, que a minha vida só fazia sentido se ele me aceitasse mesmo com todas as minhas faltas. Ninguém me podia impedir, pois só ele me conhece de verdade, e saberia o que eu estava sentindo.
Saí do lugar, sem qualquer dúvida beijei seus pés e senti todos de olhos postos em mim! Jugamento? Não sei, não querias saber.
De regresso ao meu lugar, chorava compulsivamente, não podia morrer, acabar tão nova a minha história a mimha passagem por aqui, sem antes me ser dada a graça da reconciliação que tanto desejo (mas não posso) sou divorciada. Eu só desejava (desejo esta oportunidade)
Neste instante o meu filho mais novo me abraça e tenta me confortar.
Como senão bastasse o sentir o amor de Deus, vejo uma irmã dirigir-se a mim, e agarrando minhas mãos quando já estava no meu lugar, ela diz estas palavras - Vai correr tudo bem.
As lágrimas tornam-se incontroláveis.
Saí com uma certeza deste dia de natal, não tinha nada para oferecer a Deus em troca da minha vida, (nem uma promessa) não sabia se era capaz de a cumprir. Tinha apenas os meus erros, pois todos os meus acertos já eram DELE. Sem nada para negociar, limitei-me a confiar-lhe a minha vida. E fazia questão de todos os dias lhe dizer que amava VIVER.
Durante os meses que se seguiram, a minha filha entrou na universidade, o meu filho é aluno de mérito e foi reconhecido pela escola, o meu primeiro filho a casar, casou e estive presente.
O meu trabalho evolui, e sentia-me realizada.
Conclui o trabalho do meu livro, que tinha em mão para concluir(o teu lugar és tu)
Fui operada a 14 de Outubro e fiz o lançamento do livro a 30 de Outubro.
Quando a vida me fazia acreditar que tudo podia ruir, eu acreditei que podia ser diferente apenas deixando essa decisão nas mãos de Deus.
E não me arrependo nem um pouco.
E cá estou para mais um natal!
Desejo a todos um santo e abençoado natal!
Sejam felizes, sempre!
Paula C. Batista

Paula Coelho
Chef de Pastelaria e Autora
Apaixonada pela arte de cozinhar e servir
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